quarta-feira, 19 de novembro de 2008

domingo, 16 de novembro de 2008

BIOGRAFIA DE CARTOLA

Foi no dia 11 de outubro de 1908 no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, que Angenor de Oliveira, o Cartola, nasceu . Primeiro dos oito filhos do casal Aida e Sebastião, o menino passou a gostar de música ainda criança. Aprendeu a tocar cavaquinho com o pai e a partir de então começou a participar de festas de ruas. Aos oito anos mudou-se para Laranjeiras e aos 11 para o Morro da Mangueira, que na época era ainda pequeno e tinha não mais do que 50 casas. Com 15 anos, sua mãe faleceu e os constantes conflitos com o pai o levaram a sair de casa e a abandonar a escola. Passou a viver uma vida de boêmio, entre casas de prostituição e bares. Andava pelas ruas à noite, dormia em trens do subúrbio e acabou contraindo doenças venéreas. Essa rotina o levou a adoecer em um barraco da favela, onde Deolinda, uma vizinha sete anos mais velha, cuidou de sua saúde e mais tarde tornou-se sua primeira esposa.

Trabalhou em tipografias, mas foi como pedreiro que conseguiu um emprego fixo. Vem dessa época o apelido. Para não sujar a cabeça com cimento, ele usava um chapéu-coco, parecido com uma cartola, e seus companheiros acabaram o apelidando de Cartola.

Um de seus amigos e parceiro de composição era Carlos Cachaça, também compositor e morador da Mangueira. Junto com outros compositores, eles faziam parte de um grupo que não dispensava uma briga. Acabaram criando o Bloco dos Arengueiros no Carnaval, que mais tarde agregou novos blocos e, em 28 de abril de 1928, fundaram a segunda Escola de Samba carioca, a Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira.

Com as cores verde e rosa escolhidos por Cartola, foi também de sua autoria o samba "Chega de demanda", escolhido para o primeiro desfile da escola. Durante 10 anos eles foi o compositor oficial da Mangueira e assumiu a função de diretor de harmonia até os fins dos anos 30.

Em 1929, seu samba "Infeliz Sorte" foi vendido para Mário Reis e gravado por Francisco Alves, o maior nome do rádio na época. O cantor virou um de seus intérpretes e passou a fazer parte do comércio musical de Cartola, que serviu para que seu nome ficasse conhecido entre os sambistas. Mas ele não fazia questão de ver seu nome nos créditos, queria apenas os direitos sobre as vendas dos discos. As parcerias também não lhe agradavam, preferia fazer suas canções sozinho.

"Um dia apareceu lá no morro o Mário Reis, querendo comprar uma música. Estava com outro rapaz, que veio falar comigo. 'O Mário Reis está aí e quer comprar um samba teu'. Fiquei surpreso: 'O quê? Querendo comprar samba, você está maluco?

Não vendo coisa nenhuma'. No dia seguinte ele voltou e me levou até o Mário Reis. Ele confirmou. 'É, Cartola, quero gravar um samba seu. Fique tranqüilo, seu nome vai aparecer direitinho. Quanto você quer por ele?' Pensei em pedir uns 50 mil réis.

O outro rapaz falou baixinho: 'Pede uns 500 mil'. Eu disse: 'Você está louco, o homem não vai dar tudo isso'. Com muito medo, pedi os 500 mil. Em 1932, era muito dinheiro. O Mário Reis respondeu: 'Então eu dou 300 mil réis, está bom para você?'. Bom, ele comprou o samba mas não gravou. Quem acabou gravando foi o Chico Alves."

Essa história foi o próprio Cartola que contou, em depoimento ao programa MPB Especial, dirigido por Fernando Faro, e transmitido pela TV Cultura, em 1973.

Também na voz de Francisco Alves, o samba "Divina Dama" virou sucesso em 1933. Amúsica "Fita meus olhos" ficou conhecida com Arnaldo Amaral e pôs fim ao curto período de gravações de suas composições. Depois disso, ele se afastou do meio artístico e se dedicou à Mangueira, que em 1936 teve seu samba "Não quero mais" em parceria com Carlos Cachaça e Zé da Zilda, premiado no desfile daquele ano.

Nessa época, trabalhou também na Rádio Cruzeiro do Sul, no Rio de Janeiro, cantando músicas suas e de outros compositores, e criou o programa “A voz do Morro”, no qual apresentava sambas inéditos e dava aos ouvintes a tarefa de nomeá-los. Em 1940 o maestro Heitor Villa-Lobos o convidou para participar de uma gravação, junto com um grupo de sambistas, para o famoso maestro norte-americano Leopold Stokowski, que tinha o objetivo de reunir músicas nativas na América Latina. "Quem me vê sorrindo", samba composto com Carlos Cachaça, foi gravado e o disco lançado apenas nos Estados Unidos.

A partir dessa década sua vida mudou radicalmente. Sua relação com a diretoria da Mangueira não estava boa, ele contraiu meningite e foi morar em Nilópolis, na Baixada Fluminense. Sumiu do meio musical, foi dado como morto e até alguns sambas foram feitos em sua homenagem. Sua mulher morreu pouco tempo depois de ataque cardíaco.

Sem a esposa Deolinda, ele mudou-se para uma favela no bairro do Caju, onde reencontrou Eusébia Silva do Nascimento, a Zica, cunhada de seu amigo Carlos Cachaça. Ela o encontrou entregue à bebida, desdentado, vivendo de biscates e com um problema no nariz.
Ainda assim se apaixonou por ele e o levou de volta à Mangueira. Data desse período a composição "Fiz por você o que pude" que dedicou à sua Escola de coração.

Cartola passou a ser vigia noturno e a lavar carros em um edifício em Ipanema. Em 1956 o jornalista Stanislaw Ponte Preta o encontrou trabalhando e resolveu lançá-lo novamente no meio musical, tornando-o mais popular. Mas isso ainda não o ajudou financeiramente e depois te ter se casado com Zica em 1964, ele abriu o restaurante Zicartola, na Rua da Carioca. Além da boa comida, lá se reuniam sambistas do morro e jovens compositores. O restaurante ficou famoso, virou moda na cidade, mas fechou dois anos depois por má adminitração.

Apesar dos grandes sambas que fez, somente em 1974, aos 65 anos, ele gravou seu primeiro disco produzido por Marcos Pereira e entitulado "Cartola". O disco recebeu vários prêmios e dois anos depois ele gravou seu segundo LP também com o título "Cartola". No disco estava a música "As rosas não falam", uma de suas mais famosas composições. Usada como trilha sonora de uma novela da Rede Globo, a música trouxe grande popularidade para o compositor. O sucesso foi grande e ele começou a fazer shows pelo país. Com o ascenção no meio artístico, voltou também a desfilar na Mangueira em 1977, depois de 28 anos fora da Escola de Samba. Nesse mesmo ano lançou seu terceiro disco, "Cartola- Verde Que Te Quero Rosa".

A casa do compositor se tornou atração e a freqüente visita de jornalistas e músicos fizeram com que se mudasse para Jacarepaguá na busca pela tranqüilidade para continuar compondo. Era a primeira casa própria adquirida com o recente sucesso dos discos vendidos, apesar de uma vida inteira dedicada à música. Ainda em 77 estreou "Acontece", seu segundo show individual.

No ano seguinte descobriu um câncer na tireóide e foi aperado em 78. A doença não o impediu que gravasse seu quarto disco, "Cartola – 70 anos", que foi lançado em 1979. Mas no dia 30 de novembro de 1980 o compositor faleceu, deixando um legado de grandes músicas. Em homenagem a ele, vários artistas como Beth Carvalho, Alcione, Paulinho da Viola e Chico Buarque gravaram discos com regravações de seus sucessos. Além disso, em 1983, Marília T. Barboza da Silva e Arthur Oliveira Filho lançaram o livro "Cartola, Os Tempos Idos", uma biografia do grande músico brasileiro.

DISCOGRAFIA DE CARTOLA

Apesar de ter composto inúmeras canções (algumas nem constam o seu nome), Cartola gravou apenas quatro álbuns em toda a sua carreira. O primeiro foi lançado somente em 1974, quando o sambista mangueirense já tinha 66 anos de idade. Quatro anos após o lançamento, Cartola saiu de cena. Felizmente, ele ainda deixou mais três obras-primas, que devem figurar em qualquer coleção de discos.

Abaixo, segue uma breve análise de cada um dos quatro álbuns do centenário sambista.


“CARTOLA” (1974)

Se o público teve que esperar 66 anos pelo lançamento do primeiro álbum de Cartola, ele foi recompensado com um dos grandes discos da história da Música Popular Brasileira. O álbum, como não poderia deixar de ser, é simples, assim como a sua capa, que conta com uma foto de Cartola, em preto e branco, sorrindo e com os seus típicos óculos escuros.

Mas se a sonoridade é simples (aliás, a simplicidade é requisito básico do samba), as canções soam eternas. Com letras também simples, que tocam a alma das pessoas de todas as classes sociais, as 12 faixas de “Cartola” formam uma antologia da nossa música. Do samba-choro “Disfarça e Chora” até a descontração de “Alegria”, o disco passeia por canções como “Corra e Olhe o Céu” (“Corra e olhe o céu / Que o sol vem trazer / Bom dia”), a ressentida “Tive Sim”, a emblemática “Alvorada” (“Alvorada lá no morro, que beleza / Ninguém chora, não há tristeza / Ninguém sente dissabor”), a saudosista “Amor Proibido”, e, principalmente, “O Sol Nascerá”, a marca registrada de Cartola, que, com os seus curtos nove versos, provou que as palavras mais simples fazem as canções mais bonitas.

Será que estamos errados?
“A sorrir
Eu pretendo levar a vida
Pois chorando
Eu vi a mocidade
Perdida
Fim da tempestade
O sol nascerá
Finda esta saudade
Hei de ter outro alguém para amar”


“CARTOLA” (1976)

Em seu segundo disco, que, assim como o primeiro, também foi lançado pela extinta gravadora Marcus Pereira, Cartola apresenta mais uma dúzia de sambas que estavam guardados na sua gaveta. O resultado foi mais um álbum com canções imortais, como “O Mundo É Um Moinho” e “As Rosas Não Falam”, certamente, os dois clássicos mais emblemáticos (e mais regravados) da carreira do sambista.

“Cartola”, que chegou às lojas em 1976, é considerado pela crítica o principal trabalho do compositor. E, assim como o álbum anterior, este segundo disco é marcado pela simplicidade. A foto da capa, que traz Cartola ao lado de sua esposa, Dona Zica, na sacada de sua casa no Morro da Mangueira, dá até a sensação de que aquelas canções tinham sido gravadas na sala de sua casa.

Se não foram gravadas em um ambiente tão descontraído, as 12 faixas desse disco também mostram o samba em sua forma mais básica, com percussão, violão de sete cordas e, em algumas ocasiões, a intervenção de um flautista. O exemplo dessa simplicidade está exatamente em “As Rosas Não Falam”, com a sua singela letra que apresenta uma pessoa que mata a saudade da amada que partiu, através do cheiro das rosas (“Volto ao jardim / Com a certeza de que devo chorar / Pois bem sei que não queres voltar / Para mim / Queixo-me às rosas, mas que bobagem / As rosas não falam / Simplesmente as rosas exalam / O perfume que roubam de ti”).

Outros sucessos de Cartola também estão presentes nesse disco, como “O Mundo É Um Moinho”, “Sala de Recepção”, “Peito Vazio”, “Aconteceu” e “Ensaboa Mulata”, esta última gravada também por Marisa Monte. No repertório do álbum, Cartola ainda abriu espaço para mais dois sambistas de primeira grandeza: Candeia (“Preciso Me Encontrar”) e Silas de Oliveira (“Senhora Tentação”).


“VERDE QUE TE QUERO ROSA” (1977)

O terceiro álbum de Cartola, produzido por Sérgio Cabral (o pai), foi o primeiro do sambista lançado por uma grande gravadora. E a RCA (afiliada à Sony) não deixou por menos, providenciando uma verdadeira superprodução para o sambista mais famoso de seu elenco. Uma rápida escutada no disco já é o suficiente para notar uma grande diferença técnica: o som é muito mais encorpado e a mixagem bem mais profissional. Em “Verde Que Te Quero Rosa”, é possível ouvir com nitidez os instrumentos de grandes músicos como Horondino José da Silva (violão), Radamés Gnattali (piano), Canhoto (cavaquinho), Meira (violão), Dininho (baixo), Mestre Marçal (percussão), Altamiro Carrilho (flauta) e Wilson das Neves (bateria).

Cartola, enfim, tinha uma produção à sua altura. Mas, infelizmente, esse terceiro disco não é tão arrebatador quanto os dois primeiros. Mesmo assim, “Verde Que Te Quero Rosa” é recheado de momentos brilhantes, como “Autonomia” (único registro de Cartola a frente de uma grande orquestra), o samba de gafieira “Desfigurado” (com um belo saxofone de Abel Ferreira), “Tempos Idos” (na qual o samba em pessoa canta o samba, em conspícuo exercício de metalinguagem) e a triste “Nós Dois”.

Como no trabalho anterior, Cartola homenageia outros colegas no disco. E, dessa vez, os escolhidos são Geraldo Pereira (“Escurinha”), e a dupla Guilherme de Brito e Nelson Cavaquinho, com a histórica “Pranto de Poeta” (“Em Mangueira / Quando morre um poeta / Todos choram / Vivo tranqüilo em Mangueira porque / Sei que alguém há de chorar quando eu morrer”).


“CARTOLA 70 ANOS” (1979)

Assim como em “Verde Que Te Quero Rosa”, o álbum gravado por Cartola em 1979 foi lançado pela gravadora RCA. Ou seja, todo o esmero na produção (que novamente ficou a cargo de Sérgio Cabral) é repetido nesse trabalho, que conta com uma linda capa com Cartola fantasiado durante um desfile da Mangueira.

Nesse disco, o “Divino” (como Lúcio Rangel batizou Cartola) não abriu espaço para nenhum outro samba exclusivo de outro compositor. Todas as 12 faixas são de sua autoria, algumas ao lado de fiéis parceiros, como “Silêncio de Um Cipreste” e “Ciência e Arte” (com Carlos Cachaça), “A Mesma Estória” (ao lado de Elton Medeiros), “O Inverno Do Meu Tempo” e “A Cor da Esperança” (ambas em parceria com Roberto Nascimento).

E uma dessas parcerias é exatamente a faixa que mais se destaca em “Cartola 70 Anos”. “Silêncio de um Cipreste” conta com um Cartola cantando em voz mansa os lindos versos: “O pensamento é uma folha desprendida / Do galho de nossas vidas / Que o vento leva e conduz / É uma luz vacilante e cega / É o silêncio do cipreste / Escoltado pela cruz”. “Ciência e Arte”, feita para ser o samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira em 1949 (mas recusada), escrita a quatro mãos com Carlos Cachaça, é outra que merece destaque. Tanto destaque que, em 1997, foi regravada por Gilberto Gil, em seu CD duplo “Quanta”.

Dentre as canções escritas solitariamente por Cartola, as melhores são “Fim de Estrada” (“Infelizmente / Não iremos ao fim da estrada / Eu bem sei que estás cansada / E eu também cansei / Só peço que respeites / O nome que te dei / E pelo amor de Deus / Não negues que te amei”) e “Evite Meu Amor” (“Evite Meu Amor / Recuse os braços meus / Evitarei os beijos seus / Culpado foi o destino / Se somos dois feridos”).

Na última música (“Bem Feito”) registrada em seu derradeiro álbum, Cartola canta os seguintes versos: “Ontem me contaram / Que ela vive cantando / Lamentando o tempo perdido / Que comigo passou”. Bom, não se sabe quem é a dita cuja que lamentou o tempo que passou com Cartola. Mas no que depender de nós, com tantas músicas lindas que entraram no inconsciente coletivo, certamente não tivemos tempo perdido com o mestre Cartola.

O DISCO IDEAL DE CARTOLA

Não há dúvidas de que Cartola foi um dos mais geniais compositores brasileiros. O rótulo de sambista é pequeno demais para um artista que, cem anos após o seu nascimento, pode ser considerado um verdadeiro ícone da história da Música Popular Brasileira. O sambista carioca, nascido no Catete, compôs músicas antológicas que já fazem parte do imaginário brasileiro. Sua obra foi pequena, mas imortal. E, apesar de sua curta obra, ela foi muito coesa. Seus discos (apenas quatro oficiais) eram recheados de clássicos, mais parecendo verdadeiras coletâneas de sucessos.

Por isso, este blog, em um exercício sobre-humano, escolheu quais as doze canções de Cartola que fariam parte de um álbum perfeito. Certamente, alguém vai reclamar que faltou tal música no disco, mas, por favor, considerem que uma dúzia de canções para Cartola é muito pouco...

Então, vamos lá. E quem quiser discordar de alguma escolha, basta comentar!

Lado A:

1) “Que Infeliz Sorte!” – Esta foi a primeira composição de Cartola. Datada de 1929, ela foi vendida ao cantor Mário Reis. O samba acabou sendo gravado por Francisco Alves, que teve a grande honra de ser o primeiro cantor a lançar uma composição de Cartola em disco. A sua letra já tem todo o DNA do sambista: “Passas por mim / Rindo, cantando / Dá com os ombros / Arrastando rapazes / Me debochando / E finge para todas / Estou vingada”.


2) “Divina Dama” – Também gravado por Francisco Alves, esse samba foi o primeiro grande sucesso popular de Cartola. A canção, também registrada por Chico Buarque, em 1998, é uma das melhores do sambista verde-e-rosa: “Tudo acabado / E o baile encerrado / Atordoado fiquei / Eu dancei com você / Divina dama / Com o coração / Queimando em chama”. Lindo, não?


3) “Quem Me Vê Sorrindo” – Cartola cantou essa canção ao lado das pastoras da Mangueira, escola de samba que ajudou a fundar, a bordo do navio Uruguai. Com regência do maestro Leopold Stokowski, o samba feito em parceria com Carlos Cachaça é relevante porque foi a primeira vez que Cartola teve a sua voz gravada em um compacto de 78 rpm.


4) “O Sol Nascerá” – A história dessa música é interessante e vale a pena ser contada. “O Sol Nascerá”, composta no Zicartola, restaurante que o sambista abriu com a sua esposa, Dona Zica, nasceu após um desafio do amigo Renato Agostini, que disse duvidar que Cartola compusesse um samba tão rapidamente. A canção, com os célebres versos “A sorrir / Eu pretendo levar a vida / Pois chorando / Eu vi a mocidade / Perdida”, nasceu em 30 minutinhos, e acabou entrando no primeiro álbum de Cartola, lançado em 1974. Elton Medeiros foi o seu parceiro nessa música que, devido à sua importância (e beleza), abria e encerrava o show que Ney Matogrosso fez em homenagem ao compositor, em 2003. Moral da história: nunca desconfie da capacidade de um gênio.


5) “Alvorada” – Composta ao lado de Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho, “Alvorada” é um dos clássicos de Cartola e também está presente em seu primeiro disco. “Alvorada lá no morro, que beleza / Ninguém chora, não há tristeza / Ninguém sente dissabor / O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo / E a natureza sorrindo, tingindo, tingindo”. Precisa dizer mais alguma coisa?


6) “Tive Sim” – Gravado em 1966, esse samba é um dos mais bonitos de todos os tempos. Apesar de ter sido gravado no primeiro álbum de Cartola, lançado em 1974, não é uma de suas composições mais conhecidas. Mas a sua letra é uma das mais espirituosas da nossa MPB: “Tive sim / Outro grande amor antes do teu / Tive sim / O que ela sonhava eram os meus sonhos e assim / Íamos vivendo em paz / Nosso lar, em nosso lar sempre houve alegria / Eu vivia tão contente / Como contente ao teu lado estou / Tive sim / Mas comparar com o teu amor seria o fim / Eu vou calar / Pois não pretendo amor te magoar”.


Lado B:

1) “O Mundo É Um Moinho” – Para começar esse lado B, nada melhor do que um dos maiores sucessos de Cartola, regravado por dezenas de artistas, incluindo um (quase) xará seu, Agenor Miranda de Araújo Neto, ou, simplesmente, Cazuza. A canção, que faz parte de seu segundo álbum, lançado em 1976, é um clássico: “Preste atenção querida / De cada amor tu herdarás só o cinismo / Quando notares estás a beira do abismo / Abismo que cavaste com teus pés”. Uma curiosidade: a gravação original presente no disco conta com o violão do genial Guinga, à época, um garoto com apenas 20 anos de idade.


2) “Peito Vazio” – Outra canção do segundo álbum de Cartola, aquele que tem a célebre foto do sambista, na sacada de sua casa, ao lado de Dona Zica. Poucos cantores conseguem superar Cartola na gravação de seus sambas, mas, nesse caso, vale a pena correr atrás da versão de Nelson Gonçalves. Aliás, se dissessem que a letra foi composta exclusivamente para o cantor de “A Volta do Boêmio”, não seria nada estranho... Repare só: “Um vazio se faz em meu peito / E de fato eu sinto / Em meu peito um vazio / Me faltando as tuas carícias / As noites são longas / E eu sinto mais frio”.


3) “As Rosas Não Falam” – Também do segundo disco de Cartola. “Queixo-me às rosas / Mas que bobagem / As rosas não falam / Simplesmente as rosas exalam / O perfume que roubam de ti, ai”. Melhor parar por aqui...


4) “Cordas de Aço” – Última faixa do segundo LP de Cartola, lançado pela extinta gravadora Marcus Pereira. Só um compositor do nível de Cartola seria capaz de compor uma canção tão singela para o mais importante companheiro de sua vida: o violão. “Ah, essas cordas de aço / Este minúsculo braço / Do violão que os dedos meus acariciam / Ah, este bojo perfeito / Que trago junto ao meu peito / Só você violão / Compreende porque perdi toda alegria”. Dá até vontade de pegar o violão e fazer um carinho nele...


5) “Autonomia” – Essa faixa está presente em “Verde Que Te Quero Rosa”, lançado pela RCA Victor, em 1977. “Autonomia” é um bonito samba-canção que conta com o piano de ninguém menos que Radamés Gnatalli. Vale a pena também dar uma ouvida na importante gravação do cantor Ney Matogrosso e do violonista Raphael Rabello, no não menos importante álbum “À Flor da Pele”, lançado em 1990.


6) “Tempos Idos” – Composto em 1966, a seis mãos com Carlos Cachaça e Cyro Monteiro, esse samba também faz parte de “Verde Que Te Quero Rosa”. A canção é uma homenagem ao samba, que cresceu e derrubou fronteiras. Mas, percebe-se um certo ressentimento de Cartola na emblemática letra: “Depois, aos poucos, o nosso samba / Sem sentirmos se aprimorou / Pelos salões da sociedade / Sem cerimônia ele entrou / Já não pertence mais à Praça / Já não é mais o samba de terreiro / Vitorioso ele partiu para o estrangeiro”. O samba pode ter partido para o estrangeiro, mas Cartola é nosso!

LETRAS DE MÚSICAS

Abaixo, seguem as letras das músicas escolhidas para o "DISCO IDEAL" acima:

“Que Infeliz Sorte!”

Que infeliz sorte!
Que infeliz sorte!
O que vale que o meu coração
Pra resistir essa paixão é forte

E não passava
As maiores dores
Pela ingratidão
Que me fez Dolores

Passas por mim
Rindo, cantando
Dá com os ombros
Arrastando rapazes
Me debochando
E finge para todas
Estou vingada

É só pra morrer
Sem amar não acho prazer

Que infeliz sorte!
Que infeliz sorte!
O que vale que meu coração
Pra resistir essa paixão é forte

E não passava
As maiores dores
Pela ingratidão
Que me fez Dolores

Tu não mereces
Ser recompensada
Me enganar
E dizer a todos
Estou vingada

E também é mais fraco
O juízo teu
Sem acreditar
No amor meu

+++++

“Divina Dama”

Tudo acabado
E o baile encerrado
Atordoado fiquei
Eu dancei com você
Divina dama
Com o coração
Queimando em chama

Fiquei louco
Pasmado por completo
Quando me vi tão perto
De quem tenho amizade
Na febre da dança
Senti tamanha emoção
Devorar-me o coração
Divina dama

Quando eu vi
Que a festa estava encerrada
E não restava mais nada
De felicidade
Vinguei-me nas cordas
Da lira de um trovador
Condenando o teu amor
Tudo acabado

+++++

“Quem Me Vê Sorrindo”

Quem me vê sorrindo pensa que estou alegre
O meu sorriso é por consolação
Porque sei conter para ninguém ver
O pranto do meu coração

O que eu sofri por esse amor, talvez
Não compreendeste e se eu disser não crês
Depois de derramado, ainda soluçando
Tornei-me alegre, estou cantando

Quem me vê sorrindo...

Compreendi o erro de toda humanidade
Uns choram por prazer e outros com saudade
Jurei e a minha jura jamais eu quebrarei
Todo pranto esconderei

Quem me vê sorrindo...

+++++

“O Sol Nascerá”

A sorrir
Eu pretendo levar a vida
Pois chorando
Eu vi a mocidade
Perdida

Fim da tempestade
O sol nascerá
Finda esta saudade
Hei de ter outro alguém para amar

A sorrir
Eu pretendo levar a vida
Pois chorando
Eu vi a mocidade
Perdida

+++++

“Alvorada”

Alvorada lá no morro, que beleza
Ninguém chora, não há tristeza
Ninguém sente dissabor
O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E a natureza sorrindo, tingindo, tingindo

Você também me lembra a alvorada
Quando chega iluminando
Meus caminhos tão sem vida
E o que me resta é bem pouco
Ou quase nada, do que ir assim, vagando
Nesta estrada perdida.

+++++

“Tive Sim”

Tive, sim
Outro grande amor antes do teu
Tive, sim
O que ela sonhava eram os meus sonhos e assim
Íamos vivendo em paz
Nosso lar, em nosso lar sempre houve alegria
Eu vivia tão contente
Como contente ao teu lado estou
Tive, sim
Mas comparar com o teu amor seria o fim
Eu vou calar
Pois não pretendo amor te magoar

+++++

“O Mundo É Um Moinho”

Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que iras tomar

Preste atenção querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor
Preste atenção o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho.
Vai reduzir as ilusões à pó

Preste atenção querida
Em cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavastes com teus pés

+++++

“Peito Vazio”

Nada consigo fazer
Quando a saudade aperta
Foge-me a inspiração
Sinto a alma deserta
Um vazio se faz em meu peito
E de fato eu sinto
Em meu peito um vazio
Me faltando as tuas carícias
As noites são longas
E eu sinto mais frio.
Procuro afogar no álcool
A tua lembrança
Mas noto que é ridícula
A minha vingança
Vou seguir os conselhos
De amigos
E garanto que não beberei
Nunca mais
E com o tempo
Essa imensa saudade que sinto
Se esvai

+++++

“As Rosas Não Falam”

Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão,
Enfim

Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim

Queixo-me às rosas,
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai

Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim

+++++

“Cordas de Aço”

Ah, essas cordas de aço
Este minúsculo braço
Do violão que os dedos meus acariciam
Ah, este bojo perfeito
Que trago junto ao meu peito
Só você violão
Compreende porque perdi toda alegria
E no entanto meu pinho
Pode crer, eu adivinho
Aquela mulher
Até hoje está nos esperando
Solte o teu som da madeira
Eu você e a companheira
Na madrugada iremos pra casa
Cantando...

+++++

“Autonomia”

É impossível nesta primavera, eu sei
Impossível, pois longe estarei
Mas pensando em nosso amor, amor sincero
Ai! se eu tivesse autonomia
Se eu pudesse gritaria
Não vou, não quero
Escravizaram assim um pobre coração
É necessário a nova abolição
Pra trazer de volta a minha liberdade
Se eu pudesse gritaria, amor
Se eu pudesse brigaria, amor
Não vou, não quero.

+++++

“Tempos Idos”

Os tempos idos
Nunca esquecidos
Trazem saudades ao recordar
É com tristeza que eu relembro
Coisas remotas que não vêm mais
Uma escola na Praça Onze
Testemunha ocular
E junto dela balança
Onde os malandros iam sambar
Depois, aos poucos, o nosso samba
Sem sentirmos se aprimorou
Pelos salões da sociedade
Sem cerimônia ele entrou
Já não pertence maos à Praça
Já não é mais o samba de terreiro
Vitorioso ele partiu para o estrangeiro
E muito bem representado
Por inspiração de geniais artistas
O nosso samba de, humilde samba
Foi de conquistas em conquistas
Conseguiu penetrar o Municipal
Depois de atravessar todo o universo
Com a mesma roupagem que saiu daqui
Exibiu-se para a duquesa de Kent no Itamaraty

CARTOLA CANTA CARTOLA

Abaixo, selecionamos alguns vídeos com imagens de Cartola interpretando as suas próprias canções. Não é muito fácil encontrar imagens de Cartola por aí. O reconhecimento veio tarde e, na época, a televisão ainda não era essa coisa que conhecemos hoje. De qualquer forma, com algum esforço, ainda dá para encontrar vídeos maravilhosos do sambista, seja cantando “O Mundo É Um Moinho” ao lado de seu pai, seja em um programa de televisão com Elizeth Cardoso, ou seja na intimidade do “MPB Especial” dirigido por Fernando faro, para a TV Cultura (e que está disponível em DVD).

Enfim, aproveitem as imagens...

“Peito Vazio”



“O Mundo É Um Moinho”



“Alvorada”



“Divina Dama”



“Corra e Olhe o Céu”



“O Sol Nascerá”

OUTROS CANTAM CARTOLA

Não é segredo para ninguém que Cartola foi uma dos compositores mais gravados da história de nossa música. Com canções lindíssimas, vários intérpretes se aproveitaram e pegaram emprestado algumas canções do sambista da Mangueira.

Nesta seção, vamos relembrar algumas gravações antológicas de artistas que homenagearam Cartola, e nos brindaram com a lembrança de tão belas canções.

Ney Matogrosso – “Basta de Clamares Inocência”



Cazuza – “O Mundo É Um Moinho”



Beth Carvalho – “As Rosas Não Falam”



Chico Buarque – “Sala de Recepção”



Gilberto Gil – “O Sol Nascerá”



Paulinho da Viola (com Cartola) – “Acontece”



Marisa Monte – “Ensaboa Mulata”

CARTOLA E OS ARTISTAS DA NOVA GERAÇÃO

Assim como grandes nomes da nossa música já cantaram Cartola, a nova geração também vê nele uma grande influência. Atravessando gerações, as canções do mestre marcam a vida de quem as conhece. E, por unanimidade, o maior sucesso de Cartola apontado por esses novos talentos foi “As rosas Não Falam”.


RAQUEL KOEHLER:
Música que mais gosta de cantar: “Sendo super clichê, indo no movimento da mídia e da massa, para mim, a melhor de todas é "As rosas Não Falam", que tive o prazer de interpretá-la no "100 anos de Cartola" e me emocionou muito”.

Cartola por Raquel Koehler: “Cartola é desordem, riqueza, samba, pobreza, luta, doçura, malandragem, realidade e sensibilidade. E isso, para mim, é Brasil. Não seria certo afirmar que ele contribuiu ou foi importante, ele é o RESUMO”.

Raquel canta, em seus shows, a música “Preciso me encontrar”, de Candeia, que fez sucesso na voz de Cartola. Com um arranjo ousado, Raquel transformou a música em um delicioso Rock’n’roll.

Confira o vídeo:



JULI MARIANO:
Música que mais gosta de cantar: “Preciso me encontrar”. Cantei muito esta canção, chorei muito cantando esta canção e, assim, desabafei e fui elaborando um luto do que nem eu mesma sabia que estava morrendo”.

Cartola por Juli Mariano: “Cantar Cartola é também pensar sobre a vida. Em tempos de imediatismo em que vivemos, de comércio descartável, pensar em Cartola é quase que pensar num Dom Quixote da música”.

Juli Mariano fez parte do grupo Seresta Moderna, que conta a história da MPB através de seus grandes sucessos. Para montar o grupo, Juli fez toda uma pesquisa de músicas, compositores e curiosidades que marcaram a história da Música Popular Brasileira. Confira algumas dessas histórias:

As rosas não falam
Uma vez no morro da mangueira, Dona Zica, olhando a roseira que se via de sua janela, perguntou a Cartola "De onde você acha que vem tanta beleza"? Cartola displicentemente respondeu: "Ah, sei lá, as rosas não falam". Depois ele mesmo gostou do mote e compôs a canção.

Comissão de frente
No inicio, a comunidade costumava sair na frente da escola sambando e, como em sua maioria eram negros, era comum a polícia prendê-los por vadiagem, Cartola então sugeriu que passassem a sair na frente da escola de terno e gravata para impor respeito. Assim nasceu a comissão de frente.

A volta de Cartola à cena musical
Cartola por volta dos anos cinqüenta, viúvo de sua primeira esposa, afastado da Escola e doente, vai morar na Baixada Fluminense e passa lavar carros no Centro. Certo dia, Stanislaw Ponte Preta o reconhece entre os carros e, inconformado, o traz de volta à cena musical.


MARCIO BRAGANÇA:
Música que mais gosta de cantar: “O Mundo é um Moinho”. Eu vivi um grande amor e sofri uma desilusão amorosa. Era uma menina 9 anos mais nova que eu, "começando a conhecer a vida". Esta música narra direitinho esse momento da minha vida. Ao som desta canção eu fui superando essa desilusão. Por isso que é tão especial pra mim”.

Cartola por Marcio Bragança: “Cartola é importante culturalmente pois mostrou que no morro tem gente capaz de fazer arte bem feita, apesar da dificuldade de recursos, da falta de instrução. Ele aproximou o morro do asfalto”.

Marcio cantou “O mundo É Um Moinho” em um show em homenagem aos 100 anos de Cartola, organizado por seu neto, Reizilan. A participação de Marcio foi um dos grandes momentos do show.

MANU SANTOS:
Música que mais gosta de cantar: “O Mundo É Um Moinho”. Quando eu estava com 11 anos de idade, queria ir a uma festa, e os meus pais não deixaram. Eu fiquei pedindo ‘por favor, por favor, por favor...’. Aí minha mãe começou a cantar essa música pra mim e eu entendi perfeitamente bem o que ela queria dizer. Ela me faz agir de uma forma completamente diferente do que eu agia alguns anos atrás, na adolescência (achava que sabia de tudo). Me fez crescer mentalmente”.

Cartola por Manu Santos: “O amor que eu sinto em cantar as músicas do mestre transcende. Significa muito poder estudar e cantar cada verso das ‘rosas’ de Cartola. Ele era delicado, musicalidade à flor da pele. Harmonia e poesia em uma pessoa só”.

Manu Santos também faz parte do Seresta Moderna, o que a proporcionou cantar “As rosas não falam”. Em seus shows, já interpretou sucessos como “Tive sim”.

Confira o vídeo:




E veja também a participação de Manu cantando “Cordas de aço” no show de Zé da Velha e Silvério Pontes:

O MESTRE SEGUNDO QUEM O CONHECEU

Essa história começa em 1932. Creuza Francisca dos Santos, nascida no morro da Mangueira, foi adotada por Cartola e Deolinda, após a morte de sua mãe biológica, amiga do casal.

Creuza foi uma das maiores intérpretes das músicas de Cartola, mesmo não tendo o reconhecimento da mídia. Após a morte do compositor, chegou a lançar músicas inéditas, algumas terminadas por seu filho Reizilan, com quem conversamos sobre a vida e obra de seu avô.

Reizilan cresceu ouvindo as músicas de Cartola, cantadas por sua mãe. Hoje, como músico, cantar as belas canções de Cartola, transmite muito mais do que o sentimento de um admirador da obra do mestre. As músicas vêm carregadas de emoção e saudade, daquele que cresceu em meio a tantos talentos.

“Como músico, é muito apaixonante cantar Cartola, pois se deve levar em consideração que o grande gênio era muito humilde, um poeta que conseguiu carregar toda uma comunidade sem pedir nada em troca. Isso me faz lembrar um trecho de uma letra dele: “Semente de amor, sei que sou desde criança”, diz Reizilan. E amor era o que Cartola sabia transmitir de melhor.

Assim como algumas histórias já foram contadas aqui, Reizilan nos proporcionou conhecer mais um pouco desse universo tão apaixonante, que são as músicas do sambista.

Mais uma vez, a rosa

Cartola já vinha tentando conversar com a rosa há muito tempo. Olhe essa letra abaixo e veja como ele é genial. “As Rosas Não Falam” foi só o êxtase dessas conversas:

INTERROGUEI UMA ROSA
Aqui se beijaram ela e outro amante
Neste jardim juraram amor constante
Interroguei uma rosa
E a rosa foi desbotando
E a cada pergunta negando
Este jardim foi palco de grande tragédia
Mas dentro em mim transformou tudo em comédia
Razões bastante eu tenho
Para as flores odiar
Pois a flor tombou, murchou
Mas sem querer falar

Muitas das letras de Cartola, além da beleza lírica, carregam poesia na história das suas origens. Uma das mais populares é “As rosas Não Falam”, continuação da canção acima, escrita 20 anos antes pelo compositor e gravada por Cláudia Savaget, em 1984.

“Quando ele interroga às rosas, qual a resposta que ele recebe? Simples: as rosas não falam nada”, comenta a biógrafa e pesquisadora Marília Barbosa.

As letras das duas músicas se complementam de uma forma harmônica e melancólica. Em “Interroguei uma rosa”, Cartola canta “Aqui beijaram-se/ Ela e o outro amante/ Neste jardim juraram um amor constante/ Interroguei uma rosa/ A rosa foi desbotando/ A cada pergunta negando”.

Já em “As Rosas não Falam”, o poeta, sem sua amada, retorna provavelmente ao mesmo jardim, com a certeza do choro, pois a mulher não o deseja mais. Melancólico, logo lembra já ter passado por situação semelhante: “Queixo-me às rosas, mas que bobagem/ As rosas não falam/ Simplesmente as rosas exalam/ O perfume que roubam de ti”.

O sol nasceu ligeiro

Outra canção que carrega uma história curiosa é “O Sol Nascerá”, gravada por Nara Leão, em 1964.

No filme “Cartola - Música Para os Olhos” (dos diretores Lírio Ferreira e Hiton Lacerda), Elton Medeiros, um dos grandes parceiros do músico, conta que Cartola recebeu o desafio de um colega, com desdém, que ele seria incapaz de fazer um belo samba. Sem delongas, o músico puxou o violão e começou com os famosos versos "A sorrir/ Eu pretendo levar/ A vida/ Pois chorando/ Eu vi a mocidade perdida". Em pouco tempo, o samba estava pronto.

Nada mais intenso do que ouvir algumas histórias de alguém que conviveu tão de perto com Cartola. Se não podemos estar perto e desfrutar um pouco da genialidade desse grande mestre, aproveitemos essas lindas canções, com o toque de suas histórias.

Cartola certamente foi um dos artistas mais significativos que nossa música teve o prazer de conhecer. Se cada um que passar por esse blog, encantar-se um pouquinho mais com essa rica obra que Cartola nos deixou, o nosso objetivo será alcançado. E salve Cartola!

(Crédito da foto: Antônio Carlos Miguel)

CENTRO CULTURAL CARTOLA

O Centro Cultural Cartola foi idealizado por Nilcemar Nogueira e seu irmão Pedro Paulo Nogueira, netos de Cartola. Preocupados com as mudanças na simbologia e na prática do samba, provocados pelo crescimento e a difusão do ritmo, Nilcemar e Pedro decidiram criar um espaço onde pudessem ser preservadas a cultura e a memória de nomes importantes da Mangueira, a exemplo do grande Cartola e de seu parceiro Carlos Cachaça.

Assim, em 2001, é fundado o Centro Cultural Cartola, formado por sambistas, mangueirenses, familiares e amigos de Cartola. Inicialmente, o grupo se reunia em uma sala cedida pela FAETEC (Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro), unidade Mangueira, também utilizada para guardar o acervo levantado. Em 2003, Francisco Weffort, ministro da Cultura, doou um prédio para abrigar o Centro Cultural Cartola. Situado próximo à quadra da Mangueira, o prédio tem uma área de sete mil metros quadrados.

A fim de aproveitar melhor o novo espaço, o Centro ampliou também os seus objetivos. A partir desse momento, passou a funcionar como uma área de pesquisa do samba carioca. Uma equipe de pesquisadores decidiu, então, elaborar um plano para salvaguardar as diretrizes do samba. O dossiê contém normas a serem adotadas tanto pelo poder público quanto pela sociedade civil, para que particularidades e expressões do samba não sejam perdidas.

Os projetos, contudo, não pararam por aí: foi desenvolvida uma oficina de arte e educação, com o intuito de resgatar as referências perdidas na comunidade da Mangueira. “Há dois anos, você podia perguntar para qualquer menino e adolescente, que eles não saberiam dizer quem é Cartola. E a gente considerava isso muito grave, pois se você não tiver noção da sua identidade, da sua referência histórica, você não sai fortalecido, principalmente numa sociedade onde o preconceito é velado. Então, você precisa ter esse referencial, pois ele te dá uma dimensão de qual é o teu papel na construção dessa cultura brasileira”, disse Nilcemar Nogueira.

Por meio do Programa Ponto de Cultura, desenvolvido pelo Ministério da Cultura em parceria com a sociedade civil, começou a funcionar no Centro Cultural Cartola a primeira oficina de poesia, coordenada pelo poeta Geraldino Carneiro. A oficina durou três anos, entre 2002 e 2004. No final de 2004, o Centro passou a realizar atividades de educação física, além de formar uma orquestra de violinos.

Hoje, o Centro Cultural Cartola atende uma média de 400 pessoas por mês. Entre os projetos desenvolvidos estão: oficinas de música para adultos e crianças; oficinas de dança de jazz, samba, capoeira e dança de salão; e oficinas de artes plásticas de pintura e arte dramática. Além disso, há uma sala de exposição permanente do acervo Cartola, auditório para palestras, sala de cinema e vídeos, biblioteca, sala de leitura e bar.

“A missão do Centro Cultural Cartola está muito maior do que o que planejávamos no começo. E a gente tem procurado políticas públicas para que isso não se torne iniciativa de uma família, de uma comunidade isolada. Nosso desejo é que esse reconhecimento oficial seja efetivo, pois ainda há muito preconceito com o samba. Apesar de manifestações em todo país, o centenário do Cartola foi um esforço unilateral do CCC. Isso mostra que ainda temos muito que caminhar, muita coisa para mudar”, afirmou Nilcemar Nogueira.

Para quem quiser conhecer melhor, o site oficial do Centro Cultural Cartola está aqui.

CARTOLA PELOS SEUS FÃS

Lucas Barreto, 23 anos:
"Obrigado por nos deixar uma obra tão maravilhosa!!!!!!!!!!!!!
Por cantar a dor, alegria, a tristeza, a felicidade e a esperança do povo hulmide que mora nos morros do nosso país!!!!!!!!!! Você e sua musica sempre serão eternos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!"

Alan Soares, 28anos:
"Valeu Cartola!!! Parabéns pela sua contribuição ímpar para a música brasileira. A sua vida humilde e o seu jeito simples, modesto, mas que foi tão rico em nos mostrar detalhes da vida, que às vezes passam despercebidos."

Tatiane Macena, 19 anos:
"Sempre Cartola Ele é realmente especial, um ser iluminado MARAVILHOSO!!!!!!!!!!
AMO DEMAIS!!!
OBRIGADA!!!!!!!!"

Thiago Pereira, 34 anos:
"Cartola!!!!!!!!!!!!!!!! Nunca vai ser esquecido!!!!!!!! Ele é a verdade do samba!!!!!"

Marcos Bezerra, 22anos:
"Saudade... Mestre de todos os sambas, Jamais será esquecido.Como seria bom se ele estivesse vivo e fazendo tesouros com esses que ele deixou!"

Ângela Esteves, 20 anos:
"Um poeta nunca morre Cartola eterno em nossos corações! Uma pequena homenagem para aquele que foi,que é, e sempre vai ser o mestre da música brasileira!"

Henrique Cardoso, 25anos: "Gênio cartola foi um grande presente que o povo brasileiro ganhou, um gênio, uma figura sem igual. Pessoas como Cartola não poderiam morrer jamais."

Yuri Costa, 21 anos:
"O poeta dos poetas. O imortal. Cartola... é o meu malandro predileto."

O FILME

Bom, e se depois de ler esse blog, você ficou com vontade de conhecer um pouquinho mais sobre esse genial compositor brasileiro, recomendamos o filme "Cartola - Música Para Os Olhos", que já está disponível em DVD e é imperdível!

O trailer segue logo abaixo: